Reclamação

Moradores às escuras com serviço de energia em Niterói

Falta de energia e picos são principais queixas dos usuários

Cabos/fios arrebentados em Piratininga -  Marcelo Tavares
Cabos/fios arrebentados em Piratininga - Marcelo Tavares |  Foto: Marcelo Tavares
  

Aparelhos domésticos queimados devido aos constantes picos de luz, em Niterói, são prejuízos drásticos da falha no serviço prestado pela Enel Distribuição Rio, concessionária de energia elétrica que opera na cidade.

Na Região Oceânica, a Associação de Moradores do Engenho do Mato já teve que desembolsar cerca de R$ 3,1 mil em conserto de computadores, nos últimos seis meses, justamente por esse motivo.

“Foram três computadores queimados nesse tempo. Fora nas casas dos moradores, que temos vários encaminhamentos para aberturas de processos. São coisas bizarras nas mais de 200 ruas do bairro. Tem gente com um ventilador em casa e paga R$ 300 de conta. O consumo é altíssimo. Não sei como é feito esse cálculo”, denuncia Abraão Moreira Carvalho, 37 anos, presidente da Associação.

De Norte a Sul da cidade, soam comuns as severas críticas e reclamações dos usuários que ficam sem luz por até 3 dias seguidos, conforme queixas. Além disso, postes tombados, fiações expostas e demora no atendimento, principalmente após fortes chuvas, são destaques.

“Na rua 53 ficou três dias seguidos sem luz. Sem contar na São Sebastião. Deveria mudar a empresa. Tem tantos problemas que eles não vão conseguir superar e fazer um bom atendimento. Aqui no Engenho do Mato ainda tem poste de madeira, poste quebrado no meio da rua, caindo, com risco de tirar uma vida”, lamenta Abraão Moreira Carvalho, da Associação de Moradores. 

Áreas como Barreto, Fonseca, Piratininga, Icaraí são apenas um recorte das muitas que estão inclusas no rol de insatisfações por falta de luz frequente.

Foi por isso que a Câmara Municipal de Niterói instalou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Enel — para investigar as falhas na prestação de serviços. 

Cabos/fios arrebentados em Piratininga -  Marcelo Tavares
Cabos/fios arrebentados em Piratininga - Marcelo Tavares |  Foto: Marcelo Tavares
  

Ao ENFOCO, o presidente da comissão na Casa Legislativa, vereador Leonardo Giordano (PCdoB), reforçou que a fase atual é de ouvir as organizações populares, até que seja finalizado o relatório.

“Estamos nas oitivas iniciais. A gente prepara requerimentos de informação com pedidos de dados, documentos e coisas que surjam estimuladas pelas dúvidas e reclamações da população”, enfatiza.

A reportagem apurou que no último dia 12, na Audiência Pública, houve uma apresentação da Enel, no Plenário, sobre o investimento que realiza em infraestrutura. Foi prometido, na ocasião, mais avanços tecnológicos em subestações chaves para os municípios de Niterói e Maricá.

Conforme Giordano, a participação da população na CPI é fundamental para que sejam discutidas as denúncias e haja, por fim, defesa do interesse público. 

“Vamos ouvir agora as entidades, as associações de moradores, a OAB. Queremos saber as demandas das organizações populares de todos os tipos, inclusive, empresariais, como a CDL… saber os problemas dos comerciantes”, conta Giordano.

O presidente da Câmara Municipal, o vereador Milton Cal, por sua vez, destacou a importância do trabalho institucional da Casa na CPI. “A Câmara está comprometida em trabalhar para garantir a qualidade e eficiência no fornecimento de energia elétrica em nosso município", reforça.

Reclamações

Cabos/fios arrebentados em Piratininga -  Marcelo Tavares
Cabos/fios arrebentados em Piratininga - Marcelo Tavares |  Foto: Marcelo Tavares
  

A gestora pública Simone Siqueira é moradora há 24 anos da Região Oceânica, uma das áreas mais impactadas.

“São aparelhos domésticos perdidos, e muitos não sabem dos seus direitos. Picos de luz constantes, atribuições que são da Enel. Pagamos um absurdo de conta, para um péssimo serviço”, destaca.

O assessor Willian Dayson, de 37 anos, passou por um sufoco, na última segunda-feira (17), em Piratininga, ao ficar preso por uma hora dentro do elevador de um prédio, que parou de funcionar justamente por falta de energia elétrica.

“Eu tinha que resolver alguma coisa lá embaixo e fui. Quando eu desci, notei que na orla estava sem luz, mas não me liguei sobre elevador. Peguei e subi. Quando entrei, o elevador parou no terceiro andar, a luz foi e voltou por duas vezes e percebi que não estava funcionando, apagou a luz do elevador e foi um desespero. Eu fiquei uma hora e pouca lá dentro preso. E eu tenho fobia”, lembrou.

Willian reviveu os momentos de tensão até a chegada do Corpo de Bombeiros, que foi responsável pelo resgate dele.

“Eu a todo momento ficava controlando a minha respiração, porque na minha cabeça achava que iria morrer. Os vizinhos dizem que isso acontece sempre. Uma outra me contou que já ficou 40 minutos presa, por conta da queda de luz. Toda hora acaba. Hoje acabou, ontem também. O micro-ondas ficou ruim já com isso tudo”, lamentou ele.

Já o empresário Carlos Eduardo Pereira, 36 anos, é dono de um bar e restaurante no bairro Sapê, em Pendotiba. Ele narra perdas de alimentos no local por conta da falta de luz recorrente. 

"Essa época agora está acontecendo muito e a gente tem medo de queimar alguma coisa, estamos desligando as coisas de madrugada. De 16h da tarde em diante acontece sempre. Tem área vizinha aqui que só vai resolver no dia seguinte. Já perdi várias mercadorias com isso de congelar e descongelar por falta de luz. Eu trabalho com frangueira e tive um prejuízo com a perda de 40 frangos, estragou tudo", contou ele. 

RESPOSTA DA EMPRESA 

A Enel informou que não identificou registros de interrupção do fornecimento de energia nos locais informados pelo ENFOCO e que "casos pontuais envolvendo falta de luz em endereços específicos podem ser causados por fatores diversos e precisam ser avaliados individualmente".

A empresa também listou uma série de investimentos e obras para modernizar e manter o sistema elétrico que atende a região. Segundo a empresa, o resultado prático das ações foi a redução de quedas de luz, entre 2015 e 2022. 

A Enel ressaltou ainda, em sua nota, que "as ligações clandestinas de energia têm causado forte impacto no fornecimento de energia na cidade, uma vez que sobrecarregam a rede da companhia. No ranking dos municípios atendidos pela distribuidora com os maiores índices de furto de energia no ano de 2022, Niterói ocupa o segundo lugar, com 21,6% de perdas de energia".

Sobre a CPI na Câmara de Vereadores de Niterói, a companhia afirmou que, "entende que é uma oportunidade para a companhia compartilhar, com as autoridades e a população, detalhes sobre as ações e investimentos da companhia no município. A distribuidora informa que permanece à disposição da Câmara para esclarecer informações relacionadas à operação da empresa na cidade", finalizou a nota. 

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